Comissão visita microdestilarias em Betim e Mateus Leme


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Publicado em 21 /02 / 2007

O Brasil produz 15 bilhões de litros de álcool combustível por ano. Minas Gerais tem potencial para chegar a 14 bilhões, sem monocultura, sem grandes destilarias, numa atividade integrada de auto-desenvolvimento que pode aumentar a produção de leite e de carne tradicionais do Estado. Esta proposta foi apresentada e demonstrada pelo produtor rural Marcello Guimarães Mello para os deputados da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial, durante visita a sua propriedade, a Fazenda Jardim, no município de Mateus Leme, na tarde desta terça-feira (21/2/06). Compareceram os deputados Padre João (PT), presidente, e Marlos Fernandes (PPS), vice-presidente, além de representantes da Secretaria da Agricultura, do INDI e da Ampaq.

Marcello Guimarães não é um simples produtor. Aos 68 anos, esse geólogo tem um currículo impressionante. Foi presidente da Acesita Energética, superintendente de florestas da Cia. Vale do Rio Doce, trabalhou em reflorestamento para o grupo Andrade Gutierrez, presidiu o órgão que deu origem à Agência Nacional do Petróleo e assessorou a Presidência da Cemig. Há 30 anos persegue um ideal: o aperfeiçoamento de um modelo integrado de produção para pequenas propriedades rurais em que os rejeitos de uma atividade sejam insumos para outras, ao qual deu o nome de autodesenvolvimento. Já publicou inúmeras obras divulgando esses princípios.

Requisitos para o autodesenvolvimento

Para otimizar e integrar a produção, Guimarães recomenda que o produtor tenha pelo menos três hectares de cana, três hectares de floresta densa de eucaliptos, com 20 mil árvores por hectare, e 50 bezerros para engorda ou vacas para a produção de leite. Precisa também comprar uma moenda, uma pequena caldeira e um alambique de cobre, ao custo de R$ 12 mil.

A cana deve ser moída inteira, com as folhas, com a moenda regulada para extrair apenas 70% da garapa. Nas águas, o teor de açúcar da cana é de 12 brix. Na seca, chega a 25. Esta é fermentada em dornas e levada ao alambique para transformação em cachaça. A cachaça que não for vendida deve ser levada à sede da cooperativa, onde deve ser instalada, ao lado do tanque de resfriamento, uma microdestilaria com coluna de destilação contínua, com capacidade de produzir 400 litros de álcool por dia. Tais equipamentos têm o custo mais elevado de R$ 60 mil. A cachaça excedente é transformada em álcool combustível, que volta à fazenda para movimentar máquinas e motores de veículos.

O bagaço da cana, ao qual é preciso acrescentar apenas 30 gramas de uréia por cabeça, torna-se ração para o gado durante a seca. O próprio vinhoto, que muitos consideram tóxico, é servido como energético ao gado. "O vinhoto tem tantos nutrientes minerais que, quando é lançado à água, favorece o crescimento das algas, que por sua vez consomem todo o oxigênio, provocando a morte dos peixes. Por isso surgiu a idéia de que é venenoso", explica o estudioso.

As colunas de destilação contínua e as caldeiras para o melhor aproveitamento da lenha foram exaustivamente aperfeiçoadas pelo inventor, que está disposto a licenciar serralherias para reproduzi-las sem cobrar royalties. "Minha intenção é disseminar a tecnologia sem custo, para que os pequenos produtores possam melhorar o desempenho de suas propriedades. Minas produz 7 bilhões de litros de leite por ano em pequenas propriedades. Meu cálculo é que, onde se produz um litro de leite, pode-se produzir também dois litros de álcool, com ganhos para ambas as atividades.

Álcool combustível ao custo de R$ 0,70

Quando os deputados questionaram se a pequena produção de álcool não encareceria o produto, Guimarães assegurou que produz álcool a um custo muito menor do que o das grandes destilarias: "No máximo a R$ 0,70 o litro", afirmou. A tecnologia da floresta densa também foi desenvolvida por ele. Além de fornecer lenha no calibre ideal para as caldeiras após dois anos de crescimento, o sistema economiza muitas capinas.

O estudioso coleciona decepções em suas tentativas de vender a idéia ao Governo Federal. "Estão encantados com a proposta do biodiesel, que se tornou prioritária para eles. A meu ver, esses investimentos em dendê, pinhão-manso e outras culturas vão acabar abandonados. O verdadeiro futuro energético para o Brasil está na cana. Tudo o que se faz com petróleo, se faz mais vantajosamente com álcool. O que é o petróleo? Carbono + hidrogênio + impurezas. O que é o álcool? Carbono + hidrogênio + oxigênio", ensina.

Para reduzir a burocracia sobre a produção e o transporte do álcool combustível, Marcelo Guimarães pesquisou a legislação e descobriu um decreto-lei de 1981, assinado pelo vice-presidente Aureliano Chaves e pelos ministros Camilo Penna, Amaury Stábile, Arnaldo Barbalho e Mário Andreazza, concedendo isenções para a venda de álcool de quem produz até 5 mil litros por dia, em forma de cooperativa e que não tenha financiamento do Pró-Alcool, e registro sumário no Instituto do Açúcar e do Álcool. "Este decreto está em vigor. Nunca foi revogado", disse ele.

Deputado quer regulamentar lei de incentivo de sua autoria

O deputado Padre João pediu a visita à Fazenda Jardim e promoveu a ida de representantes do Instituto de Desenvolvimento Industrial (Indi-MG), da Secretaria da Agricultura e da Associação Mineira de Produtores de Aguardente de Qualidade (Ampaq), com a finalidade de oferecer subsídios ao Governo Mineiro para regulamentar a Lei 15.456/05, de sua autoria, que institui a Política Estadual de Incentivo às Microdestilarias de Álcool e Beneficiamento de Produtos Derivados da Cana-de-Açúcar.

"O método desenvolvido pelo Dr. Marcello vem de encontro ao que necessitamos para melhorar as condições de sobrevivência dos pequenos produtores rurais, não só na geração de renda, mas principalmente por ser intensiva em mão-de-obra", disse o deputado.

O deputado Marlos Fernandes aproveitou outra queixa do fazendeiro para apresentar uma solicitação à Cemig de estudos sobre a oferta de linhas trifásicas para o produtor rural. "A energia monofásica é um entrave para a modernização das propriedades", reclamou Marcello Guimarães.

Prática em assentamento mostra falta de assistência

Um exemplo prático de como o projeto de produção de álcool combustível pode funcionar de maneira insatisfatória, por falta de assistência técnica, foi testemunhado pelos deputados, numa visita realizada no mesmo dia ao assentamento Dom Orione, entre Betim e Ibirité. Numa área de 226 hectares vivem 39 famílias de agricultores desde 1997, parte delas ligadas ao Movimento dos Sem Terra (MST) e a maioria vinculada à Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg).

Sete dessas famílias se engajaram num projeto de microdestilaria financiado pelo Sindieletro, o sindicato dos trabalhadores da Cemig, que investiu cerca de R$ 40 mil nos equipamentos: moenda, dornas de fermentação, caldeira, tacho e coluna de destilação contínua. Um dos assentados, Carlos Ribeiro de Oliveira, disse que eles chegaram a produzir 50 litros de álcool na fase de testes: "Quando o álcool saiu, a gente colocou no tanque de um carro, ligou e o motor funcionou", relatou Ribeiro. Além de abastecer veículos, o produtor aponta outro uso para o álcool: movimentar as bombas de irrigação.

No entanto, a coluna de destilação deve funcionar continuamente para aproveitar o calor da caldeira, e não ter a produção interrompida todos os dias, como os alambiques tradicionais que as famílias já conheciam. Sem uma orientação técnica precisa, não se plantou cana suficiente para sustentar a atividade, e as famílias utilizaram o equipamento para as atividades que já dominavam: a produção de cachaça e de rapadura.

R$ 37,5 mil em rapaduras e 4 mil litros de cachaça

Hilton Gonçalves disse que já produziram 4 mil litros de cachaça, que está sendo vendida na região por R$ 3,00 o litro, ainda sem rótulo e seu registro. Ângela Maria dos Santos acrescentou que o assentamento Dom Orione produziu e entregou, entre agosto e novembro, 150 mil pequenas rapaduras embaladas à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), sob contrato, faturando R$ 37,5 mil. O dirigente da Conab que fez a encomenda, segundo ela, é o mesmo Eduardo Drumond que apoiou a iniciativa, quando presidente do Sindieletro.

Os deputados pediram aos representantes da Ampaq que avaliassem a cachaça produzida no assentamento. Raimundo Ribeiro Vieira disse que daria a nota 7, mas ressalvou que a Ampaq não aceita cachaça produzida em coluna de destilação contínua. Exige alambique de cobre, fermento de milho e barris de madeira para envelhecimento. Apesar dos evidentes problemas, o deputado Padre João elogiou a diversificação das atividades do assentamento como forma de assegurar a sobrevivência das famílias. O deputado Marlos Fernandes anunciou que vai apresentar requerimento para que a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG) dê assistência técnica àqueles agricultores para o plantio de cana, e para que a Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec), através do seu setor de Tecnologia de Alimentos, dê orientação para o pleno aproveitamento dos equipamentos de destilação.

Presenças: Deputados Padre João (PT), presidente; Marlos Fernandes (PPS), vice-presidente; Victor Soares Lopes, da Secretaria da Agricultura; Marcelo Furtado Vital, do Instituto de Desenvolvimento Industrial (Indi-MG); Raimundo Ribeiro Vieira e Marco Antônio de Magalhães, da Associação Mineira de Aguardente de Qualidade (Ampaq).

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715

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